A violência política sofre da mesma síndrome que acometeu o jornalismo brasileiro. Quando algum eleitor de Bolsonaro ataca física ou moralmente um opositor do governo, o fato ganha certo tipo de destaque. Quando a situação se inverte, o fato só chega ao seu conhecimento através das redes sociais, ou sai da página política e vira notinha nas páginas policiais. Só falta proporcionarem à matéria o título padrão: “Petista agride bolsonarista, mas…”.
Minha opinião sobre esse tipo de violência diverge do senso corrente na velha imprensa. A política, por si mesma, só dá causa à violência quando sua matriz ideológica é violenta. Se a ideologia que a pessoa abraça não constrói uma frase sem a palavra “luta”, se ela estimula atos violentos como invasões, se ela acha que “o poder se toma” e considera que os fins justificam os meios, ela gera violência. Todas as revoluções e movimentos totalitários bem como as respectivas ditaduras são violentos e usam da violência. Fora isso, pessoas violentas existem em toda parte e essa sua natureza explode por variadas motivações.
Quase todo dia alguém me envia relato pessoal sobre seu doloroso convívio com bulling e discriminação. São padecimentos, duradouros e sofridos, causados por professores e colegas. Fatos assim compõem rotina e praxe, notadamente nos cursos de Ciências Humanas e têm como causa serem, os queixosos, jovens “de direita” ou conservadores. Essa violência, de matriz política, é cotidiana e afeta centenas de milhares de estudantes e professores em nosso país. Dessa violência ninguém fala, mas você sabe, não é mesmo? Querem é mantê-lo desinformado.
Há outras causas e formas para a violência eclodir. Em 2015, estávamos em Barcelona quando o Barça venceu o Juventus e arrebatou a taça da UEFA. A torcida da equipe catalã, vitoriosa, comemorou destruindo com fúria a esplêndida Rambla de uma ponta à outra. Por quê? Não sei se alguém saberia dizer.
Black blocs, antifas e outros grupos pouco “amáveis” não põem o pé na rua sem máscaras e bonés, coquetéis Molotov, latas de tinta e porretes. Mantêm histórica animosidade contra bancos, vitrinas e lojas. As tropas militantes de Stédile não saem às ruas ou estradas sem suas rutilantes e afiadas ferramentas. Você sabe.
Não mencionei os conflitos entre torcidas em estádios de futebol por serem uma analogia demasiadamente óbvia. É o futebol que faz isso, ou são pessoas cuja violência explode sob determinadas condições? Você sabe. Querem é lhe confundir.
O que talvez você não saiba é o motivo dessa politização eleitoreira da violência fortuita. Ela só está na pauta porque desde 2018, após muitas décadas, os campos que disputam a eleição são nitidamente antagônicos. Por causa dessa alteração convivemos com censura e prisões políticas. Também isso é violência! O novo antagonismo causa desconforto à esquerda que dominava o palco com o jogo de cena entre PT e PSDB mantendo conservadores e liberais bem acomodados na plateia.
Era esse “equilíbrio”, danoso à nação e proveitoso a si mesmos, que alguns gostariam de manter. Toda violência deve ser contida, punida, tratada, mas, no país da leniência, da impunidade e dos maus exemplos, ela prospera.
*Percival Puggina (77)
Membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.