Definitivamente, a morte se instalou na vida da gente. Todos os dias recebemos notícias do falecimento de pessoas conhecidas, parentes, amigos, colegas e personalidades que, de uma forma ou de outra, estão deixando o nosso planeta. A presença da morte, de uma forma tão brusca e forte, nos obrigou a procurar entender o que, na realidade, sempre existiu, mas agora se tornou quase rotina.
Não há como ignorá-la.
A minha experiência pessoal com a morte começou aos meus 27 anos, com o falecimento do meu pai, que morreu em meus braços, de câncer – fato que me fortaleceu espiritualmente desde então.
Depois, aos 30, eu e a Rosaria, minha mulher, tivemos o falecimento de nossa filha Cynthia, com apenas 3 meses de idade, em um acidente de carro em que eu estava ao volante. Foi um momento doloroso para mim e para a Rosaria. Esse acontecimento começou a pavimentar um caminho que nos conduziu a um entendimento gradativo e constante a respeito do sentido desta nossa encarnação, juntos. Foi um aprendizado sofrido, intenso, mas também enriquecedor e libertador.
Depois, naturalmente, tivemos o falecimento de alguns parentes próximos e muito queridos: meu sogro, nossas avós, mães e irmãos que, apesar da saudade, foram recebidos e entendidos por nós sob a perspectiva da dimensão da eternidade e da continuidade da vida. Foi um aprendizado que se consolidou ao longo de muitas perdas. Na realidade, são perdas aparentes, porque todos sempre continuaram em nossos corações.
E hoje, com a pandemia de Covid-19 e o crescente número de mortes, vemos que as pessoas de um modo geral ainda não compreenderam o significado e a realidade da encarnação. Seguem sofrendo de forma inconsciente por não terem ainda assimilado essa verdade.
O despreparo e a falta de entendimento, junto com a realidade da ausência de alguém querido, provocam perplexidade, que demora a ser substituída pela aceitação, causando, em muitos casos, revolta e lamentação.
É muito comum ouvirmos: “Foi uma perda irreparável, uma grande perda, vai fazer falta…”
O que acontece, na verdade, é que essa perda no nosso plano terrestre significa um ganho na espiritualidade. Aqueles que realmente contribuíram para a construção de um mundo melhor, mais amoroso e equilibrado, sem dúvida, serão recompensados com o plantio que aqui fizeram.
Assim, todos estamos passando pela oportunidade desse aprendizado, que deve ser compreendido como uma verdadeira fonte de libertação, pelo entendimento de que a morte não representa o fim da vida, mas a passagem para outro plano, espiritual e de continuidade.
Lavoisier nos ensinou: “Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo apenas se transforma”. Este ensinamento deve ser devidamente interpretado, pois nos abre para uma visão universal das coisas e dos seres, pela sua amplitude.
Hoje, muitos adultos já têm mais parentes e amigos do lado de lá do que do lado de cá, o que, necessariamente, deve nos motivar a procurar entender o significado da morte.
O que precisamos aprender é a aceitação da morte. E o seu verdadeiro significado. Entendendo que a vida vai continuar mesmo sem a nossa presença, e que seremos substituídos continuamente, sempre. Assim caminha a humanidade. Rei morto, rei posto.
Enfim, o negócio é tocar a vida e aceitar seu determinismo, com amor e alegria.
Heitor Rodrigues Freire – Corretor de imóveis e advogado.