A Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS) – Unidade Universitária de Dourados tem desenvolvido diversas pesquisas alinhadas às soluções de destinação de materiais com foco na sustentabilidade, seja na área agrícola ou na área de infraestruturas, com o reaproveitamento de resíduos da construção civil. Projetos desenvolvidos pelo Centro já foram premiados em nível regional, com o Troféu Marco Verde, concedido pelo IMAM/Dourados, em 2018; e em nível nacional, com a premiação na 9ª Edição do Prêmio Odebrecht para o Desenvolvimento Sustentável, em 2017.
Não é de hoje que o Centro de Pesquisas em Materiais (CEPEMAT) da UEMS de Dourados realiza estudos para reaproveitamento de materiais de diversas origens, alavancando metodologias tecnológicas que garantam a produção de produtos experimentais sob o conceito da chamada “infraestrutura sustentável”. Nessa linha de pesquisa, um projeto de Iniciação Científica da acadêmica Jéssica Jaques de Souza, do 4º curso de Engenharia Ambiental e Sanitária, sob orientação do prof. Me. João Victor Maciel de Andrade Silva, tem ganhado destaque ao se debruçar sobre técnicas de produção e aprimoramento de concreto poroso – ou “concreto permeável”, termo técnico mais utilizado.
O trabalho vem sendo desenvolvido desde 2020, sob o título “Substituição Parcial de Agregados por Resíduos de Construção e Demolição na Produção de Concreto Permeável”. Desse modo, a importância da pesquisa configura-se frente ao fato de que, nas grandes cidades, o problema da deficiência de planejamento aliado ao crescimento desordenado de expansão urbana, além de comprometer a saúde e o meio ambiente, se configura como ameaça aos recursos hídricos, ao solo e à vegetação.
Sob tal perspectiva, o tradicional sistema de drenagem, presente na maior parte das regiões urbanas no Brasil, ocasiona determinados resultados como enchentes e alagamentos, resultantes, por sua vez, de vazões de pico e uma redução no tempo de escoamento. Os noticiários durante as chuvas de verão, se tornaram recorrentes na memória de grande parte da população, materializando prejuízos de ordem estrutural, financeira e até de vidas humanas.
“Estamos desenvolvendo esse projeto há pouco mais de um ano e a ideia principal é produzirmos um concreto que tenha espaços vazios em sua parte interna. Estes espaços permitem a percolação da água dentro do concreto. Dessa maneira, conseguimos utilizar um material resistente e que garante que a água se infiltre no solo, sem que isso cause qualquer impacto no sistema público de coleta e transporte de águas pluviais. A aplicabilidade, por exemplo, pode ser desde praças, a trechos de calçada onde transitam pessoas e automóveis”, explica o docente e pesquisador da UEMS. De acordo com João Victor, o mote da pesquisa é a sustentabilidade, sendo que este tipo de abordagem é trabalhado em outros países, o trabalho da UEMS pioneiro no Estado de Mato Grosso do Sul.
Simulação do movimento de “percolação” da água no concreto permeável
“Precisamos encontrar solução para as regiões de alta concentração urbana. Sendo assim, esta pesquisa tem um forte viés ecológico e sustentável, sobretudo com o reaproveitamento de materiais de construções, uma etapa mais à frente deste estudo, materiais produzidos com sobras da construção civil. São duas frentes: garantir o aumento da percolação da água em vias públicas e reaproveitar o descarte de obras urbanas”, orienta o pesquisador do CEPEMAT. É uma solução prática e efetiva para amenizar e até mesmo extinguir riscos de alagamentos.
O promissor projeto de Iniciação Científica, trabalhado nos laboratórios do CEPEMAT reflete a importância da política de incentivo da Universidade, por meio do Programa Institucional de Iniciação Científica (PIBIC) da UEMS, que oferta bolsas aos acadêmicos e acadêmicas da instituição. Os editais PIBIC são administrados e gerenciados pela Pró-reitoria de Pesquisa, Pós-graduação e Inovação (PROPPI) e recebem propostas de professores e discentes que desejam participar. Os processos são desenvolvidos em parceria com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Um pouco sobre Teoria das Estruturas
No curso de Engenharia Ambiental e Sanitária, a disciplina de Teoria das Estruturas é obrigatória e visa fornecer ao estudante conhecimentos básicos dos princípios energéticos que regem o comportamento de estruturas e seus elementos, submetidos às solicitações usuais. A acadêmica autora do projeto de IC informa que teve contato com o tema em 2018 e logo começou a tomar contato com o conceito de concreto permeável, por meio do orientador. “Me interessei muito pelo assunto e inclusive, antecipei disciplinas para buscar compreender melhor a dinâmica. Assim, estudei conceitos da mistura que forma o concreto e das influências de seus componentes, como a brita, areia e o aspecto geral da matriz cimentícia”, detalha a acadêmica da UEMS.
De acordo com ela, a pandemia impactou o desenvolvimento do projeto de iniciação científica e atrasou etapas. “Tivemos receio. Se conseguirmos finalizar o projeto de pesquisa, tanto que o resíduo de construção civil (denominado RCD) era para constar nesse primeiro projeto, porém, com as limitações da pandemia tivemos que substituir este item pela brita. Com a continuidade dessa pesquisa, via o projeto subsequente de IC, denominado “Análise da Influência da Utilização de Agregados Reciclados em Concretos Permeáveis”, poderemos testar a resistência de produtos desenvolvidos com restos de descarte de obras urbanas”, explica Jéssica. De acordo com ela, a alta permeabilidade dos tijolos porosos, desenvolvidos com brita no primeiro projeto apresentou uma resistência que será fortalecida nas análises vinculadas a este segundo projeto.
Vários instrumentos são utilizados nos testes dos materiais
É preciso testar e aprimorar a resistência
“A importância dos testes de resistência é fundamental para prosseguirmos com a pesquisa, é preciso equipamentos para a realização de experimentações mecânicas mediante aplicação de peso sobre os materiais desenvolvidos no laboratório a fim de determinar suas respectivas resistências. Atualmente, temos uma demanda por um aparelho denominado Máquina Universal de Ensaio de Resistência (MUER), uma prensa hidráulica de altíssima pressão, e esperamos que, dentro em breve, esse material esteja disponível em nosso Laboratório. Além destes testes vinculados às experimentações de ordem científica, um item como a MUER irá conferir à UEMS a possibilidade de parcerias público-privadas para atendimento de construtoras e demais empresas do setor de construção e infraestrutura da região”, pondera o docente João Victor.
A reutilização de materiais para elaboração de itens como concreto, lajotas e demais produtos correlatos tem sido foco dos trabalhos do CEPEMAT nos últimos anos. Uma diversidade de itens já foi testada considerando a sustentabilidade por meio do reaproveitamento de resíduos de descarte. De garrafas plásticas “pet” aos restos de bagaço de cana-de-açúcar. De lixo eletrônico, composto por peças descartadas de computadores a garrafas de vidro longneck. O próximo que entrará na mira de nossos pesquisadores serão as bitucas de cigarro. Qual seria a resistência destes itens?
O CEPEMAT
O CEPEMAT está localizado na Unidade Universitária da UEMS de Dourados. É um Centro de Ensino, Pesquisa e Extensão, constituído conforme legislações vigentes específicas dos Centros de Ensino, Pesquisa e Extensão (CEPEX) da Universidade. O Centro tem por objetivo promover o desenvolvimento e a promoção de atividades de Ensino, Pesquisa e Extensão, bem como ações de Assessoria e Consultoria para o fortalecimento e cooperação entre a UEMS e outras instituições públicas e privadas.
O CEPEMAT atua nas linhas de pesquisa vinculadas ao estudo, desenvolvimento, caracterização e reciclagem de materiais. De acordo com o prof. Dr. Aguinaldo Lenine, o CEPEMAT cumpre um papel importante voltado à reutilização de materiais, com professores que estudam . “Dentro das pesquisas com uso de resíduos, já tivemos experimentações para reutilização de descarte de seringas, de garrafas Pet e de cinzas do bagaço de cana na produção de concreto. Não se trata simplesmente de substituir, jogar estes resíduos junto ao concreto. Os testes e pesquisas mostram que há viabilidade de serem realmente aproveitados, assim, ao invés destes materiais irem para o lixo, está provado que podem ser reutilizados”, explicou o docente da UEMS.
Atualmente, o CEPEMAT é formado por um grupo de sete professores pesquisadores e de uma técnica que atua no suporte administrativo. A coordenação do Centro é exercida pelo prof. Dr. Dalton Pedroso de Queiroz. Para mais informações, acessar o link da página do CEPEMAT, disponível AQUI
Fachada do CEPEMAT, localizado na UEMS de Dourados