Jandaia Caetano
Entramos na semana das anunciadas manifestações programadas para o próximo 15 de março. No próximo domingo, em várias regiões do país, manifestantes pró-governo devem protestar contra os poderes Judiciário e Legislativo.
Entranhado na política do confronto, o presidente da República aproveitou passagem em Boa Vista (RR), para conclamar a população a participar dos atos do próximo dia 15. Jair Bolsonaro afirmou que o movimento “é espontâneo… e pró-Brasil”.
Após a redemocratização do país, dois impeachments de presidente da República trouxeram realidades diferentes para o Congresso Nacional. O primeiro, em 1992, foi um empoderamento antes nunca visto. Mesmo com a experiência parlamentarista de setembro 1961 a janeiro de 1963 – primeira na era republicana brasileira (antes, houve no Império) – nunca o congresso foi unanimidade político-administrativa como após a queda de Fernando Collor.
Mesmo com baixa aprovação popular do Congresso, era unânime para os governos que sucederam Collor que a ‘governabilidade’ dependia da boa relação com o referido poder. Tudo mudou com o impeachment da presidente Dilma em 2016 e a eleição de Bolsonaro. A maioria de deputados e senadores hoje são considerados os bad boys (garotos maus) da sociedade brasileira. E bad boys com pouco poder de barganha. Incluam nesta, os ministros do STF. Legislativo e Judiciário estão encurralados.
Ao escutar o presidente afirmando que “político que tem medo de movimento de rua não serve para ser político”, me lembrei de uma conversa com amigo, integrante do Partido dos Trabalhadores, no final da primeira década deste século. O partido comandava o país e os petistas utilizavam a rede em larga escala para se expressar.
Percebi um sorriso no rosto do amigo – como um vampiro com sangue nos dentes –, ao relatar que na rede social ‘o pau cantava’, ‘o couro comia’ (me perdoe às expressões machistas). Eram inúmeras as polêmicas políticas em um município do interior de menos de 20 mil habitantes.
Não imaginava o amigo que uma patrulha virtual à direita, que também foi às ruas, viria com força na década seguinte e elegeria um novo presidente da República e, antes disso, derrubaria a sua presidente.
O presidente navega em águas tranquilas. Os protestos contrários não impactam e ficam restritas a grupos corporativos da esquerda. Mas a história é cíclica e a voz das ruas pode mudar. Que diga Dilma e seu governo, com as manifestações a partir de 2013. O ditado alerta: “Nada como um dia após o outro”.
Jandaia Caetano tem 41 anos, é licenciado e pós-graduado em História, e é jornalista desde 1998. Atualmente é secretário municipal de Comunicação Social em Mundo Novo (MS).